Estudo liga medicamentos como Ozempic e Wegovy a maior risco de doença ocular grave

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Um estudo recente publicado na revista JAMA Ophthalmology trouxe um alerta sobre medicamentos da classe dos análogos de GLP-1, como Ozempic e Wegovy, amplamente utilizados no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, identificou um aumento significativo no risco de desenvolvimento da forma úmida da degeneração macular relacionada à idade (DMRI), uma das principais causas de cegueira em adultos acima de 50 anos.

A análise, baseada em registros de saúde de quase 140 mil adultos com diabetes tipo 2 em Ontário, mostrou que pacientes que usaram medicamentos GLP-1 por pelo menos seis meses tinham mais que o dobro de chance de desenvolver DMRI úmida em comparação com os que não usaram. O risco aumentava proporcionalmente ao tempo de uso: aqueles que tomaram os medicamentos entre 18 e 30 meses tiveram risco mais que dobrado, e quem usou por mais de 30 meses apresentou um risco mais que triplicado.

Apesar da associação estatística, o risco absoluto permaneceu baixo: 0,2% entre os usuários dos medicamentos contra 0,1% nos não usuários. Mesmo assim, os pesquisadores destacam a importância de investigar mais profundamente a possível relação entre esses medicamentos e distúrbios oculares.

Degeneração macular: uma ameaça silenciosa

A degeneração macular relacionada à idade é uma doença degenerativa que afeta a mácula, a parte do olho responsável pela visão central. Segundo o oftalmologista Mauro Goldbaum, diretor da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), essa é a principal causa de perda de visão em pessoas com mais de 50 anos em países desenvolvidos.

Existem duas formas da doença: a seca, menos agressiva, e a úmida, que é responsável pela maior parte dos casos graves de perda visual. “Na forma úmida, há crescimento de vasos anômalos que podem vazar sangue na região da mácula, levando à degeneração rápida e intensa da visão central”, explica Goldbaum, que não participou do estudo.

Outras preocupações visuais

Este não é o primeiro estudo a levantar suspeitas sobre os efeitos oculares dos análogos de GLP-1. Pesquisas anteriores já haviam sugerido que o uso de Ozempic poderia estar ligado a um risco aumentado de neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NAOIN), uma condição rara e grave que pode causar perda irreversível da visão.

No entanto, especialistas pedem cautela. Goldbaum ressalta que os estudos disponíveis até agora são observacionais, baseados em registros de dados administrativos, com limitações importantes. “Nem sempre é possível confirmar o diagnóstico preciso ou saber se havia predisposição anterior à doença”, afirma. No caso específico da DMRI, por exemplo, o novo estudo não avaliou se os pacientes já apresentavam sinais da forma seca da doença antes da conversão para a forma úmida — o principal fator de risco.

Resposta da fabricante

A farmacêutica Novo Nordisk, responsável pelo Ozempic e Wegovy, afirma que não há comprovação de risco. Em nota à imprensa, a empresa destacou que estudos clínicos com pacientes idosos não mostraram diferença significativa na incidência de DMRI entre os que usaram semaglutida e os que não usaram. A companhia também anunciou o desenvolvimento de um estudo próprio, chamado FOCUS, para avaliar os efeitos da semaglutida a longo prazo na progressão da retinopatia diabética. Os resultados são esperados para o segundo semestre de 2027.

O que isso significa para os pacientes?

Embora os dados sejam preliminares, a possível associação entre os medicamentos e distúrbios oculares merece atenção. Para pacientes que já têm fatores de risco para doenças oculares ou histórico familiar de DMRI, é recomendável discutir com o médico os prós e contras do tratamento com GLP-1.