Câmeras corporais registram execução de suspeito rendido por PMs em Paraisópolis; dois policiais são presos

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São Paulo (SP) – 15 de julho de 2025. Imagens captadas por câmeras corporais da Polícia Militar flagraram o momento em que policiais atiram contra um suspeito já rendido durante uma operação realizada na noite da última quinta-feira (10), na comunidade de Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo. A gravação foi essencial para que dois agentes fossem presos em flagrante por homicídio doloso (quando há intenção de matar). Outros dois PMs também foram indiciados por apresentarem versões falsas do ocorrido.

De acordo com o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM, os policiais envolvidos não sabiam que as câmeras estavam gravando no momento dos disparos. Um dos dispositivos foi ativado acidentalmente, acionando automaticamente as demais câmeras num raio de até 20 metros, uma nova funcionalidade dos equipamentos implantados a partir de junho. As imagens gravadas contam com um recurso de retroação de 90 segundos, o que permitiu registrar o momento exato da abordagem e dos tiros.

O homem executado foi identificado como Igor Oliveira de Moraes Santos. Ele aparece nas imagens com as mãos erguidas, encostado em uma parede de um quarto. Um policial militar dispara duas vezes contra ele, que cai no chão. Em seguida, ao mandar Igor se levantar, efetua um novo disparo. Outro PM também atira. Ao fim dos tiros, os policiais gritam: "As COP, as COP!", referindo-se às Câmeras Operacionais Portáteis (COPs) que estavam ativas.

As gravações contradizem o relato inicial dos policiais, que alegaram ter havido uma troca de tiros. Igor estava desarmado e rendido no momento em que foi atingido por quatro disparos. A Secretaria da Segurança Pública confirmou que os policiais agiram de forma ilegal e criminosa. “A ação começou legítima, mas os disparos foram efetuados quando o suspeito já estava rendido. Não havia qualquer justificativa”, afirmou o coronel Massera.

Além de Igor, outros três suspeitos estavam na residência de um morador que, segundo a polícia, não tinha relação com o crime. Três armas de fogo, drogas, dinheiro e celulares foram apreendidos. Três homens foram presos, dois deles sem antecedentes criminais.

Protestos e mais uma morte

Após a divulgação do caso, a comunidade de Paraisópolis entrou em protesto na sexta-feira (11). O ato, que começou de forma pacífica, terminou em vandalismo e confronto com a PM. Veículos foram atacados com pedras e pedaços de madeira, e um carro chegou a ser tombado por manifestantes. Um sargento da ROTA foi baleado no ombro e está fora de perigo, embora precise passar por cirurgia.

Durante a confusão, um homem identificado como Bruno Leite, de 29 anos, foi morto. Uma outra pessoa foi presa. As manifestações duraram cerca de quatro horas e deixaram ao menos três viaturas danificadas.

O que dizem as autoridades

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que o caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), além do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado em paralelo. A Polícia Judiciária Militar teve acesso imediato às gravações e foi responsável pelas prisões em flagrante.

“A Polícia Militar não compactua com condutas ilegais. Estamos apurando o caso com total transparência. Os policiais serão responsabilizados”, declarou Massera. Segundo ele, o episódio não foi causado por falta de treinamento, mas por erro individual grave.

A investigação sobre o homicídio doloso tem prazo inicial de 20 dias, podendo ser prorrogado por até 40 dias. As imagens das câmeras devem ser divulgadas publicamente após a conclusão do inquérito.